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quinta-feira, 23 de junho de 2011

O PIAUÍ E A REPÚBLICA

David Caldas, nascido na terra piauiense de Barras, seria chamado o profeta da República, pois muitos anos antes da proclamação do novo regime brasileiro, esse combativo homem de imprensa, ardoroso antimonarquista, admitiu que o advento republicano se daria justamente no ano em que ocorreu, em 1889. Poucos recordam o bravo jornalista, desassombrado que muito sofreu pela virtude de ter e de defender idéias. Sabe-se que os acontecimentos da história sempre promanam de sérias causas econômicas e dos erros imperdoáveis que os próprios homens cometem. Não houvesse o gesto magnânimo de Isabel e o Trono teria permanecido no Brasil. A máquina aboliu a escravatura e a abolição desta retirou da família imperial brasileira o apoio dos latifundiários e a monarquia ruiu como um castelo de cartas. Mas existem as causas primeiras e as derradeiras e, no meio destas últimas, os acontecimentos de precipitação. Anfrísio Fialho, ferrenho republicano, nascido no Piauí, que o elegeu deputado federal para participar da primeira Constituinte, escreveu "História da Fundação da República no Brasil", em cuja página 29 escreveu: "O coronel Cunha Matos, que havia sido encarregado de inspecionar uma companhia de infantaria estacionada numa das províncias do império, no relatório que apresentou ao ministro da Guerra, fez graves acusações ao comando daquela companhia, o qual era amigo do peito de um deputado". E logo a seguir acrescentou: "Tomando as dores pelo comandante da companhia, o deputado, em vez de limitar-se a defender o seu inimigo, injuria atrozmente, do alto da tribuna parlamentar, ao coronel Cunha Matos, chamando-o de traidor e covarde".

Anfrísio Fialho, republicano, escondeu o nome do Simplício Coelho de Resende, incondicional partidário de Pedro II, e não esclareceu convenientemente os fatos. Simplício nasceu em Piripiri, município piauiense. Jornalista impetuoso e valente. Um dos empolgantes episódios de sua vida pública está no envolvimento da chamada questão militar, formada de circunstâncias diversas relacionadas com a disciplina. Pedro Calmon atribuiu ao parlamentar do Piauí participação direta como fator relevante na fundação da República. Realmente, Simplício rebateu as acusações de Cunha Matos contra o capitão Pedro José de Lima, que teria praticado supostas irregularidades no comando de uma Companhia de Infantaria no Piauí. O parlamentar atacou violentamente o denunciante, transformando-se o assunto em grave caso político. Cunha Matos defendeu-se pela imprensa. Foi preso. Várias ocorrências se verificaram com a participação de civis e militares. Precipitou-se a proclamação da República. Recorde-se que Simplício Coelho de Resende era de caráter forte e extremamente corajoso de atitudes.


A. Tito Filho, 21/11/1987, Jornal O Dia

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