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sexta-feira, 17 de junho de 2011

AS REFORMAS DO ENSINO

A gente não sabe se existem mais constituições federais ou reformas do ensino. Necessariamente o Brasil tem sido o País das reformas, até nos nomes da moeda nacional: a pataca, o mil-réis, o cruzeiro, o cruzado e quantas outras. Desde quando me entendo, a primeira reforma do ensino pertence a Francisco Campos, ou Chico Ciência, o mesmo que redigiu a Polaca, ou Constituição Vargas. Pois bem. Aos cinco anos de ginásio, o sagaz reformista acresceu dois, o pré, distribuído em três ramos: pré-jurídico, pré-médico e pré-técnico. O jovem escolhia com antecedência a profissão e realizava o curso cujas disciplinas já lhe asseguravam base para a futura faculdade superior. Gustavo Capanema, também como o anterior ministro da ditadura, fez a sua reforma: ginásio de quatro anos, três anos de curso clássico ou científico. Isto se deu por volta da década de 40. Chegaria a vez de nova reforma, nos anos 70, sob o patrocínio de nova ditadura, a inaugurada em 1964: vários anos de 1º grau e mais três anos de 2º grau.

Introduziu-se ainda o ensino profissionalizante. Falta a reforma cívica, a reforma que exonere o inglês e o francês do vestibular. Ainda vive o Brasil subservientemente com a exigência de uma dessas línguas para exame de ingresso nas universidades. Não há necessidade de o futuro doutor saber inglês ou francês. A própria universidade afirma que as duas línguas são desnecessárias, desde o instante em que confere ao candidato a prerrogativa de escolher entre uma e outra. E por que não se exigem o alemão, o italiano, o russo, o chinês? O inglês, ou o francês, podem participar da cultura especializada, de quem quer que seja, nunca de maneira obrigatória nos centros universitários. Argumente-se que as grandes obras para a formação de um doutor sejam em inglês, ou francês, o que não corresponde a verdade. Caso fossem, essas obras poderiam existir em tradução portuguesa, como existem em traduções de livros originalmente escritos noutras línguas. Nem doutor turista necessita de inglês, ou francês. Em toda parte existem guias e interpretes. Será que na Inglaterra, nos Estados Unidos, na França se exige português nas provas de ingresso nas universidades? Há necessidade de mais uma reforma: a abolição da subserviência.


A. Tito Filho, 11/11/1987, Jornal O Dia

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