Quer ler este texto em PDF?

sexta-feira, 10 de junho de 2011

CELSO O POBREZINHO

Era em 1936. Centenário do jornalista Davi Caldas. O governador Leônidas Melo realizou grandes festas comemorativas. Solenidades literárias, edição extraordinária de jornais. Muita despesa dos cofres públicos. Petrônio Portella, no seu tempo governamental, instituiu concursos, deu dinheiro para alguns grupos teatrais, publicou livros de piauienses. Alberto Silva, no primeiro Governo, editou cerca de quarenta obras, sob orientação da Academia Piauiense de Letras e esta nem o seu presidente, pelo relevante e estafante serviço, nada cobraram. Dirceu Arcoverde mandou-me no rumo de Recife, deu-me passagem e alguns níqueis para hospedagem. Acompanhei a confecção dos painéis de poesias de Da Costa e Silva, durante cinco dias, enfrentando chuva, nas oficinas desconfortáveis de Bórsoi, os painéis para a praça do mesmo nome, em Teresina. Nenhum tostão tive de pagamento. A Casa de Lucídio Freitas tem prestado valiosa colaboração ao Piauí, a Teresina, a organismos oficiais, a entidades particularidades, educandários, estudantes, jovens escritores - e jamais cobrou, ou o autor destas linhas, um centavo de quem quer que seja, Lucídio Portella, à frente da administração do Estado, promoveu comemorações dos centenários de Matias Olímpio e Pedro Brito. Autorizou elevadas despesas com solenidades, recepções, livros, sob orientação da APL. O Governador Hugo Napoleão viveu um ano inteiro festejando o primeiro centenário de Da Costa e Silva. Pagou jornais e jornalistas. Fez reuniões em Brasília. Conferências literárias em Teresina, com vinda de diplomata de Londres. Realizou caríssimas edições especiais de revistas, obra completa do poeta, em trabalho de luxo, confeccionado na Nova Fronteira, do Rio de Janeiro. Deram-se permanentes festejos em Amarante, - milhões e milhões de cruzeiros gastos em programas comemorativos. Até camisa com o retrato do grande escritor foi distribuída. Esses governadores cumpriram o dever sagrado de prestigiar os mortos queridos do Piauí, que projetaram a terra nos domínios da inteligência. Aplaudiram-nos todos os setores conscientes da sociedade. Dias de beleza espiritual. Recordaram-se as memórias de conterrâneos ilustres. Chegou este ano de 1987 a vez de Celso Pinheiro, piauiense, uma das maiores vozes da poesia nacional, que, vivo, estaria completando o primeiro centenário de nascimento. Quase nada se fez em sua homenagem. Um recitativo aqui, um discursozinho ali. Ninguém lhe deu projeção. A neta culta, Lina Celso, com apoio do Projeto Petrônio Portella, entregará brevemente ao público um livro do poeta, dos mais de vinte títulos que ele organizou. A Academia Piauiense de Letras, em sessão, fez o elogio de Celso e lembrou-lhe a obra aureolada. E para conhecimento da coletividade distribuiu quinze linhas datilografadas sobre o imenso morto, com bilhetes de pedidos de divulgação dirigidos a Octávio Miranda, Elvira Raulino, Mário Soares, Paulo Henrique, Edmilson Caminha Júnior, Luiz Alberto Falcão, Dídimo de Castro, Padre Tony e à Secretaria de Comunicação do Governo do Estado. Pedi a divulgação, pois a Academia não possui dinheiro para pagar publicações jornalísticas. Tem subvenção de vinte mil cruzados mensais, quantia que mal paga material de expediente, material de limpeza, correspondência no correio e outros gastos mínimos, e anualmente o MEC lhe oferece uma esmola - este ano de 1987 apenas vinte e oito mil cruzados. Não foi possível promover comemorações significativas. A Casa de Lucídio Freitas não dispõe de recursos. A própria sede em que funciona constitui presente do ex-governador Hugo Napoleão, que ainda lhe deu máquinas de escrever e mobiliário, - ato da maior grandeza espiritual. Pobrezinho do Celso Pinheiro. Poeta imenso, viveu amargurado, tuberculoso, rico apenas de cabeça e coração - continua a padecer o esquecimento e a injustiça dos homens perversos.


A. Tito Filho, 06/12/1987, Jornal O Dia

Nenhum comentário:

Postar um comentário