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domingo, 19 de junho de 2011

AINDA ODILON

Nos longínquos fins dos anos setecentos o Piauí enfrentava problemas angustiantes de tardio povoamento, dificuldades de transporte - sem agricultura e sem escolas. Não se esqueça a perversa matança da indiada, aos magotes. João do Rego Castelo Branco liquidava todo tipo de índio: feto, recém-nascido, criança, adolescente, moços, maduros e velhos. As estrepolias sangrentas desse exímio degolador ingressaram na história e na literatura. Cumpria ordens dos conquistadores da terra e dos governantes. E cumpria-as sem um pitoco de remorso, alegre sempre. Em Odilon Nunes se admira a paciência na busca do documento - documento que ele confere, examina, estuda e dele retira a verdade, para a narrativa segura e a análise esclarecedora. Narra o mestre os episódios da independência: Parnaíba, Oeiras e Jenipapo. E lembra que no começo do século XIX o ouro, o diamante e o açúcar estavam em decadência. O Norte representava dois terços da atividade útil do Brasil. Se Fidié se mantivesse no Piauí, como queria D. João VI, Portugal dominaria o Norte e evitaria a vitória dos baianos, cortando-lhes o fornecimento de carne. Maranhão, Piauí e Pará formariam o Brasil Português, subordinado a Lisboa. Adiante Odilon estuda as causas da Balaiada. Para ele, essa guerra violenta no Maranhão e Piauí resultou de um choque de culturas. As origens próximas da luta estavam na prática perniciosa do recrutamento feito pelo Exército, fazendo que pobres cablocos entrassem para o serviço das armas, longe da terra e da família. As causas sérias eram outras: as condições de ordem econômica geradoras de permanente miséria coletiva; a terra, confiada a poucos, àqueles que representavam o regime político e que viviam de explorar o homem do interior; a fome e a estrutura social, o brasileiro esquecido e abandonado. Finalmente realizados estudos sociais e políticos da maior relevância: as lutas partidárias, o processo educacional, o regime de trabalho, o crime e as suas causas, a mudança de capital de Oeiras para Teresina, a guerra do Paraguai, a liberdade dos escravos, a colonização e aspectos culturais do Piauí. Pena que o ilustrado e honesto historiador esbarre na República. De tudo se deduz que no fim do século XIX o Piauí parecia esmorecer: economia de subsistência, fontes de riqueza estagnadas, comércio e lavoura em grandes dificuldades, decadências da pecuária, tristes condições educacionais e culturais.

A. Tito Filho, 14/11/1987, Jornal O Dia 

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