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segunda-feira, 13 de junho de 2011

LITERATURA PIAUIENSE

Quando, em 1973, organizei e comentei, a pedido de Deoclécio Dantas, toda a produção literária de Raimundo Zito Batista, escrevi, no livro que se publicou, o seguinte, a respeito da sua poesia: "Em Zito não há o sentimento da paisagem piauiense. Amadureceu no mundo da máquina, da metralhadora, do avião, da guerra - mas esses temas não se revelam nas suas criações poéticas. Toda a sua temática é melancólica - as angustias íntimas vitais e universais. Verso denso, enérgico, grave, dolorido. Habilíssimo no decassílabo. Sua obra revitaliza os temas fundamentais do amor, do ódio, da mulher, do sofrimento. Puro tradicionalismo estético, de terrível sinceridade, de realidade viva e dolorosa. São raros os poetas como ele, de tanta força expressiva. Há, nas suas concepções, desolada e humana visão da vida e da intimidade do homem. Poesia psicológica - poesia essencial".

Na poesia de Zito não se encontra o Piauí, na sua paisagem social, histórica ou geográfica. Pelo menos não a encontrei, embora lesse e relesse os poemas com dobrada atenção. E outros nascidos em terras piauienses fizeram literatura pelo mesmo jeito de Zito nos versos concebidos: não há temas interiores ou exteriores com o Piauí. Esses autores, pois, como Cruz e Sousa em Santa Catarina, pertencem à literatura brasileira, nunca a literatura da chamada terra natal. Defendo o principio de que a literatura piauiense se comporá dos documentos cujo conteúdo seja de temas de nossa terra, com problemas de qualquer natureza, e se assim acontece, óbvio será que à obra se incorporará o cenário natural piauiense.

O admirável Assis Brasil publicou um livro em que o Parnaíba é personagem principal - e todo o seu cortejo exuberante de beleza e riqueza na meninice do escritor. Do cenário piauiense, social e geográfico do Piauí se apresenta a denominada Teatrologia, integrada dos romances verdadeiros "Beira Rio Beira Vida", "A Filha do Meio Quilo", "O Salto do Cavalo Cobridor" e "Pacamão". Todos os demais produtos literários da inteligência de Assis Brasil - uns 50 livros - não pertencem à literatura piauiense.

Assim penso, salvo melhor juízo dos doutos e entendedores universais do assunto.


A. Tito Filho, 08/11/87, Jornal O Dia

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