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quinta-feira, 23 de junho de 2011

ÉDIPO

A lenda de Édipo pertence à mitologia grega. Aconteceu que Laio, rei de Tebas, desposou Jocasta, e do casal nasceu Édipo. Quando se casou, Laio teve a curiosidade de consultar os oráculos - que dizem a vontade dos deuses e davam a conhecer o futuro dos consulentes. Pois o oráculo manifestou a Laio que o filho que dele nascesse lhe causaria a morte. Jocasta deu à luz e o marido mandou que se sumisse o menino, mas o encarregado da missão, como na Branca de Neve, limitou-se a suspendê-lo numa árvore, de onde um pastor o conduziu à rainha de Corinto, que o adotou e cuidou de sua educação. Homem feito, herói consultou o oráculo e a resposta veio: seria o assassino do pai e marido da própria mãe. Para evitar que a predição de tornasse real, exilou-se, guiando-se pelos astros. No caminho, encontrou Laio - e cada qual se recusou a ceder ao outro passagem na estrada estreita. Lutaram e Laio foi morto. Chegando a Tebas, Édipo encontrou a cidade em pânico. A esfinge, monstro horrível, atirava-se sobre as pessoas e propunha-lhes enigmas, matando os que não os decifrassem. Um deles era este: qual o animal que de manhã tem quatro pés, dois ao meio-dia e três de tarde? Creon, irmão de Jocasta, que assumiria o Governo com a morte do cunhado, garantiu que dava a mão da irmã e a coroa ao que livrasse Tebas do triste tributo que se pagava ao monstro. Édipo apresentou-se e teve boa sorte de decifrar o mistério: o animal era o homem, que na infância se arrasta sobre os pés e as mãos; ao meio dia, na maturidade, só necessita de duas pernas; à tarde, na velhice, usa bastão, como se fosse terceira perna. A Esfinge, furiosa, por se ver decifrada, atirou-se a um precipício e morreu. Jocasta tornou-se mulher de Édipo e tiveram dois filhos e duas filhas. Anos depois, o reino foi devastado por cruel peste. O oráculo declarou que os tebanos recebiam o castigo porque não vingaram a morte de seu rei Laio, e Édipo ordenou pesquisas. Pouco a pouco se descobria que o novo rei era parricida e incestuoso. Jocasta suicida-se. Édipo arranca os próprios olhos e afasta-se de Tebas, conduzido por sua filha Antígona, que não o abandona na desgraça. Teseu os amparou em Atenas. Creon quis que ele retornasse a Tebas, mas o príncipe infeliz rejeita o convite, temendo que o cunhado quisesse afastá-lo dos atenienses. Édipo morreu na presença de Teseu, sem violência e sem dor.

Esta a história que li em Commellin e que praticamente transcrevi. Sófocles, numa tragédia imortal, para melhor inspirar o terror e a piedade, acrescentou outros episódios à lenda. Homero diz que Édipo casou com a mãe Jocasta, mas não houve filhos do casamento. Jocasta matou-se assim que se reconheceu incestuosa. Diz-se mais que o herói casou segunda vez, com Eurigaméia, com quem reinou em Tebas, onde faleceu.

Agora Dias Gomes revive Édipo numa novela, uma novela com copos de uísque, negócios escusos, revólveres, comunismo, maternidade, e o Laio de cocó. Ao lado, muito adultério.

Sófocles, inteligência de raça, observa certa atenção que as crianças demonstram pelos genitores do sexo oposto. As fêmeas gostam dos pais, os machos das mães. Depois foi a vez de Freud ao positivar a autocastração simbólica na peça de Sófocles. Édipo mutila-se para nunca mais realizar o ato sexual. Nasceu o complexo de Édipo. As pessoas que primeiro convivem com as crianças deixam nelas recordações. Ninguém se liberta dessa influência psicológica. Quando adultos, assumem atitudes paradoxais e têm necessidade de libertação. Se não conseguem, tornam-se nevrosados.


A. Tito Filho, 26/11/1987, Jornal O Dia

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