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segunda-feira, 20 de junho de 2011

BRASILZÃO PRIMEIRO E ÚNICO

Gosto do Brasil, um País engraçado, onde a gente vive porque a vida sempre foi boa demais, e dá alegria viver num território imenso, cercado de problemas por todos os lados. Quando Cabral o descobriu, deu-lhe nome de Vera Cruz, depois Santa Cruz, finalmente Brasil. Houve capital em Salvador, depois Rio de Janeiro e Brasília já não dando certo. Teve foros de capitania, vice-reino, monarquia, república. Houve parlamentarismo, presidencialismo, de novo regime parlamentar, outra vez chefia presidencial e agora não se sabe o que se vai vestir. Umas três ditaduras já se impuseram nos caminhos republicanos. A moeda de vez em quando tem nome diferente. Antigamente ao homem rico se dizia cheio de patacas. Veio o milréis. Getúlio Vargas adotou, com um decreto, o cruzeiro, repartido em centavos. José Sarney mudou o rumo da história e mandou imprimir o cruzado - o cruzado que era, no tempo do vovô de Sarney, moeda de 400 réis. E o cruzado saído das cabeças dos meninos de Funaro quase leva o Brasilzão ao brejo das vacas. Quantas constituições? Umas sete, oito - ninguém sabe dizer, pois cada uma padeceu as reformas ou pacotes dos casuísmos. A reforma agrária antigamente se baseava na praga da saúva, que devia ser extinta ou não havia agricultura. De vez em quando se criam novas entidades, os incras, por exemplo, e mais uma meia dúzia que o tempo sepultou. O caboclo continua sem terra, sem fruto e sem televisão, mas corre no rumo da megalópole e adere à venda da maconha ou ao assalto. Quantos reformas econômicas? Cada ministro da Fazenda, nova sentença. Desde não sei quando neste País se briga por roubalheira no peso, nos impostos, na venda de gato por lebre. Até a inconfidência mineira estouraria na cobrança de imposto do ouro, que Portugal não perdoava e com o ouro do Brasil sustentava a luxaria dos palácios lisboetas. Constantemente se reformaram os Códigos. O Civil vigora desde 1917, pois protege a propriedade privada e assim ninguém as reformas do ensino, e nenhuma delas abole do País essa vergonheira de exploração do ensino particular subvencionado pelo governo para as elites. À pobreza e os negros se dá o ensino oficial, de professores mal pagos e sem regalias. Cogita-se de novo sistema ortográfico. Houve vários. Peleja-se para facilitar a escrita alheia, mas ninguém escreve o que presta sem estudo e sem leitura. O Brasilzão não se aquieta nem se ajeita. Vive de reformas, sem que faça a mais útil delas: a reforma dos costumes, a fim de que o brasileiro realmente trabalhe, seja acessível aos bens da vida e possa ser digno da terra onde nasceu.


A. Tito Filho, 16/12/1987, Jornal O Dia

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