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terça-feira, 21 de junho de 2011

FUTEBOL

Em 1960, fui chefão do futebol no Piauí, interventor federal na Federação Piauiense de Futebol, armado de poderes ditatoriais. Havia em Teresina uns dez clubes, fora os do interior, Campo Maior e Floriano, se a memória está lembrada. Jogava-se no estádio Lindolfo Monteiro. Certos jogos não rendiam ao menos para o pagamento dos garotos apanhadores da bola saída de campo, os gandulas. Deliberei reduzir as agremiações teresinenses a seis, escolhendo aquelas da simpatia pública. E assim fiz. Os donos dos grêmios cassados, a bem do esporte, muito me ameaçaram de morte, mas nada me aconteceu. Ainda não chegara o tempo dessas vendetas, tão comuns neste fim de século.

Os clubes de futebol organizados recebiam subvenção mais ou menos gorda, anualmente, do Governo Federal, e nisto residia o motivo de entidades de todos os feitios, até de aleijados. E Teresina tem sido, ao longo do tempo assim: quando se inventa uma modalidade de ganhar dinheiro, dezenas e dezenas de idênticos estabelecimentos povoam a capital. Os proprietários de funerárias disputam de revólver em punho defunto pobre e rico. Há churrascarias por todos os cantos, como santo e negro na Bahia. Uma verdadeira praga de butiques. Motel dá na canela. Em cada esquina uma farmácia. Botecos são centenas.

Em 1918 fundou-se o primeiro clube de futebol na capital do Piauí, com o pomposo nome de TERESINENSE ATLÉTICO CLUBE, justamente o introdutor desse jogo entre nós - e como só existia uma entidade deu-se a disputa do primeiro jogo entre dois times da mesma sociedade esportiva, um chamado CORISCO e o outro PALMEIRAS, aquele constituído dos craques André (goleiro), Bastos e Abreu (beques), Wady, Artur e Curi (médios) e os atacantes Ferro, Mundico, Lourival, Álvaro e Sady. A outra formava-se com os jogadores Gonçalo, Jinvinha e Viana, Paulo, Emílio e Rubim, Medeiros, Pompom, Martins, Henrique e Gerson, - com a mesma distribuição de posições do anterior. Desses 22 heróis não sei dizer se existe algum vivo nem me lembro dos que cheguei a conhecer, salvo um dos beques do CORISCO, José Auto de Abreu, falecido antes dos anos 80, intelectual e político.

Depois da fundação do Teresinense Atlético Clube, surgiram, entre 1918 e 1920, mais as seguintes organizações futebolísticas:

  • Militar Esporte
  • Fundição Esporte Clube
  • Tipográfico Esporte Clube
  • Clube Republicano de Futebol
  • Artífice Esporte Clube
  • América Esporte Clube
  • Piauí Esporte Clube
  • Comércio Esporte Clube
  • Belga Esporte Clube
e outros talvez cujos registros não me foi possível encontrar.

Quanta cousa em Teresina padece a saturação, naturalmente. A cidade torna-se farta, cheia de cousas do mesmo - clubes de alta-roda para exibição de vestidos das madamas, com recepções regadas a uísque, bolinhos para arrotos escondidos e cigarros de matar lentamente; pontos de táxi; jornais e revistas sebosos da Praça Pedro II; teatro de qualquer jeito no velho 4 de Setembro; estupro de garotas já bem sovadas de sexo e mais que se veja e anote para a monotonia da vida sem grandeza.

O futebol, como o carnaval, chegará ao ponto de saturação, como eu escrevi nos idos de 1975.


A. Tito Filho, 23/12/1987, Jornal O Dia

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