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domingo, 19 de junho de 2011

JOÃO PINHEIRO

O conto foi pouco cultivado nas primeiras fases da Literatura piauiense. Parece que o primeiro em salientar-se nesse gênero se chamou Francisco Gil Castelo Branco, diplomata, que serviu em Assunção do Paraguai e morreu na cidade francesa de Marselha. Em 1874 publicou "Um Figurino", uma só pequena estória, e dois anos depois entregava aos leitores "Contos a Esmo". Seguem-se diversos contistas como João da Cruz Monteiro ("O Major Irineu Gomes Coelho"), João Alfredo ("Contetos"), João Licínio de Miranda Barbosa ("Esmaltes"), Arquelau de Sousa Mendes, Júlio Emílio de Paiva Rosa ("As infelicidades de Tibério"). No século XX salientavam-se nesse tipo literário Amélia Bevilaqua e Clodoaldo Freitas. E mais perto de nós se encontram Esmaragdo de Freitas, Álvaro Ferreira, Lilizinha Carvalho, Edgar Nogueira, Fontes Ibiapina, para que se citem apenas os que passaram desta para melhor vida. Mas no meio desses cumpre colocar o principal deles, o que deu expressão ao conto regional piauiense, homenageado, ano a ano, com um concurso de contos que leva o seu nome - João Pinheiro, falecido no Rio de Janeiro mais de quarenta anos passados. Dentista da profissão, chegou a criar e vender o "Pó Ideal", dentifrício aromático.

Mas seguiria outros rumos - o magistério, em que se tornou mestre acatado de português; e as atividades intelectuais, respeitável estudioso de nossa história e de nossa vida literária, além de poeta e contista. Entre outros trabalhos, publicou uma história da literatura piauiense, em que fixa as suas fases iniciais, autores respectivos, analisando-lhes, embora sem profundidade, as obras que publicaram. Talvez o primeiro caminho seguro para os futuros intérpretes futuros. No terreno da ficção, publicou dois livros de contos - "A toa" e "Fogo de Palha", servindo-se do material das lendas ou de acontecimentos reais. Retrata com talento caracteres físicos e reproduz nos diálogos a fala sertaneja, com sinceridade. As suas descrições de cenários naturais parecem copiadas pela acuidade de pintor genial.

As páginas de João Pinheiro entusiasmam por virtude de um estilo simples e do modo tão dele de reproduzir cenas em que cabras corajosos do sertão duro se mostram em toda a arrogância nas lutas de suor e morte. O contista piauiense merece ser relido das novas gerações.


A. Tito Filho, 27/11/1987, Jornal O Dia

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