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sexta-feira, 24 de junho de 2011

A INDEPENDÊNCIA

Contam que o gorducho Dom João VI, ao deixar o Rio de Janeiro, pediu que o filho Pedro se tornasse o novo rei brasileiro. De Lisboa, porém, despachava o cabo-de-guerra Fidié para o comando das armas em Oeiras, a antiga capital, ordenando-lhe que nestes piauís se mantivesse, a qualquer custo.

Portugal queria o Brasil-Português, constituído de Piauí, Maranhão e Pará. Era a riqueza em gado bovino, sustentadora da côrte e das colônias africanas.

A 19 de outubro de 1822, em Parnaíba, norte da capitania, alguns patriotas, liderados por João Cândido e Simplício Dias, levantaram, segundo Pereira da Costa, o grito da independência e aclamaram Pedro imperador do Brasil. A notícia chegou a Oeiras, sede do governo português, e logo o comandante Fidié seguiu com a tropa armada, uns mil soldados, para sufocar o gesto parnaibano. Os rebeldes, sabedores da aproximação dos lusos, abandonaram a vila e refugiaram-se no Ceará. Não houve combate. Erro imperdoável teria praticado o comandante português, ao abandonar a capital do Piauí.

Aproveitando-se da ausência de Fidié e seus comandantes, Manuel de Sousa Martins, futuro visconde da Parnaíba, a 24 de janeiro de 1823, manhãzinha, proclamou, em Oeiras,a  independência e estabeleceu novo governo com a destituição das autoridades lusitanas.

Até 1937, os piauienses comemoravam a independência a 24 de janeiro. Em 1923, uma semana de solenidades homenageou o primeiro centenário do gesto de Sousa Martins. O historiador Pereira da Costa registrou que, a 31.8.1859, "Lei provincial determina no artigo 24 que o dia 24 de janeiro, aniversário da adesão do Piauí à independência nacional, é feriado em todas as repartições provinciais".

Em Parnaíba, Fidié aquartelou-se e treinou a tropa. Mas era necessário retornar a Oeiras e retomar o governo. A 1º de março de 1823, com mais de mil homens, o chefe marcha (no) rumo de Piracuruca (PI). Deveria alcançar Campo Maior, aonde chegou às margens do rio Jenipapo a 13 do mesmo mês. Aguardavam-no piauienses e outros brasileiros, perto de dois mil homens, comandados por Chaves, Nereu e Alecrim. Vaqueiros e roceiros ocultaram-se no leito seco do rio, entre os arbustos. Deram-se os choques iniciais entre os adversários. Grande perda de vida dos independentes, armados de velhas espingardas, facões, machados e foices. O combate durou das 9 da manhã às 2 da tarde, sob sol escaldante. Vencidos os brasileiros, Fidié não teve condições de perseguí-los. Registra-se que morreram poucos portugueses e cerca de 400 ou mais do outro lado.

Acampando para descanso nos arredores de Campo Maior, exausto, deu-se o furto de armas e munições dos portugueses. Iniciaram-se tropelias contra os vitoriosos. O comandante resolveu seguir para o Estanhado (União-PI) e daí para Caxias (MA), onde, cercado, resistiu, mas acabou vencido e prisioneiro.

Jenipapo foi carnificina pavorosa. A luta no Piauí decidiria a unidade nacional. Achamos, pois, que a verdadeira independência di Brasil se verificou a 13.03.1823, às margens do rio Jenipapo, perto da vila piauiense de Campo Maior. Salvo melhor juízo.

Três as fases do processo político da independência: o gesto inicial e pioneiro dos parnaibanos, depois a habilidade do dono de gado e vaqueiro chamado Manuel de Sousa Martins e por fim a consolidação destes fatos na sangrenta batalha do Jenipapo, a 13.03.1823 - data da verdadeira emancipação do Brasil, com a afirmação da unidade nacional.


A. Tito Filho, 21/10/1987, Jornal O Dia

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