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terça-feira, 12 de abril de 2011

POBRE LÍNGUA PORTUGUESA

Parabéns a Cineas Santos pela coragem em debater questões de língua portuguesa, num instante em que a língua de Camões, Vieira, Machado de Assis não vale dez mil réis de mel coado. A novela televisada e a a revista de quadrinhos transmitem a deturpação permanente do poderoso instrumento que poucos sabem utilizar. Pelas tevês e publicações não existe diferença entre tu e você, e esses pronomes aparecem nos diálogos das peças que Sófocles nunca pensou em escrever ou de Tarzan com celebrada Jane dos filmes respectivos, reproduzidos nas revistas norte-americanizadas. Essa fala do tu e você ao mesmo tempo, quando duas pessoas conversam vigora por esta total república de espertezas sem conta. Exporta-a o Rio de Janeiro e os pobres Estados arremedam instante a instante a deformação expressional. Tal maneira de comunicar e receber notícias e idéias invadiu as escolas, os clubes, o soçaite, o recinto dos lares - e o estropiamento grosseiro sai da boca de rapazes, mocinhas, senhoras jovens e matronas respeitáveis, sobretudo na alta-roda de estroinices e superfluidades.

A linguagem da mocidade de hoje engravidou-se de expressões plebéias, pois os moços vivem abandonados das instituições sociais. As mães, fonte de afeto, espairecem nas praias, de fio-dental os colégios são decepcionantes. Pelos cantos e recantos da vida, a desvirtude - e os jovens protestam, como se estivessem a gritar por socorro, que pedem e exigem os caminhos da tranqüilidade, e rebelam-se contra o desprezo da sociedade e passam a hostilizá-la, e hostilizam-na no pai, no mestre, no lar, nas leis, e hostilizam a inteligência, a pátria, como se estivessem a mostrar que a vida não deve ser séria, nem digna, deve ser uma pilhéria, um deboche, uma pândega.

Como curar a degenerescência social? Com a volta aos princípios que não se anulam, com bons exemplos para os moços, as maiores vítimas da desordem espiritual dos nossos tempos, a desordem provocada pela poderosa civilização industrial. Dom Bosco foi sábio: mudar o que não presta, conservar o que é bom.

Por agora, cumpre salvar a pobre língua portuguesa.

A. Tito Filho, 01/02/03/Novembro/1987, Jornal O Dia

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